Ou melhor, adeus ano velho. E que tenhamos o melhor ano novo que nós consigamos fazer.

"O amor era para ele o desejo de se abandonar às vontades e caprichos do outro. Aquele que se entrega ao outro como um soldado se constitui prisioneiro, deve antes entregar todas as armas. E, vendo-se sem defesa, não pode deixar de se indagar quando virá o golpe. Posso, portanto, dizer que amor era para Franz a espera contínua do golpe."
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui
“Mãe, esse meu ‘namorado’ é o que a Sra. sempre recomendou para mim. Ele me aceita, me protege e me trata como um homem de verdade deve tratar uma mulher.
Ele me faz andar de quatro no chão como uma cadelinha enquanto me puxa pelos cabelos e eu empino o meu cuzinho. Ele me põe ajoelhada para que eu O chupe enquanto fode minha garganta. Ele bate e esfrega o pau na minha cara e eu quase gozo. Ele ordena que eu me toque e eu rezo para que monte em cima de mim. Ele me dá água para beber no seu pau se eu for boazinha, e me pune sempre que eu mereça. Ele me diz humilhações no pé do ouvido que me deixam toda arrepiada e molhada. Ele me olha nos olhos enquanto aperta os meus mamilos e cospe na minha cara.
Eu olho para o meu Senhor com gratidão e mal consigo me conter de tanto prazer que me dá. Ele me amarra, me bate, me usa, me fode. Eu gemo como uma puta. Ele me vira e, como um bicho, mete violentamente Sua vara em mim enquanto me beija. Eu gemo muito e quase grito, eu imploro internamente para que me viole ao máximo. E sorrio quando percebo que meu Dono vai gozar dentro de mim. E, assim, posso gozar também, enquanto sua porra escorre pelas minhas pernas, mamãe.”
Percorro o meu trajeto de volta ao meu país com o coração repleto de imagens belas. Memórias macias que me socorrem enquanto me fazem carinho pelos cabelos. A chuva fina molhando meu rosto na varanda. As ruas vazias do centro da cidade e o céu marrom se misturando à luz amarela dos postes. A Tua silhueta no escuro enquanto eu acompanhava Teu sono doce. Tuas sobrancelhas, Teus cílios, as marcas do tempo e do cansaço no Teu rosto. Teu sorriso, Teus dentes, Teus olhares, tudo o que me encanta. Minhas pernas no Teu peito, Teu beijo quente nos meus dedos, meu contentamento
Essa perplexidade diante do real.
O frio na barriga ao encontro do novo.
Você me perguntou o que significava para mim nesse processo todo. Eu disse que Você era o pivô de muitas transformações difíceis e boas. Mas digo mais, Você é o Homem que escolhi para amar e para servir com todas as forças do meu ser. Você é meu Mestre que me conduz ao encontro da minha identidade. É objeto de carinhos, afeições, admiração e de um amor imenso. Você tem feito a roda girar e criar e recriar novos sentidos.
Não entendo quando diz que tem dificuldade de compreender o porquê de tanta dedicação minha nesse período difícil. Muitas vezes eu me envergonho por não me achar interessante, inteligente e bonita o bastante para Te entreter ou satisfazer por muito tempo.
Sou Tua. Minhas pretensões são grandes e talvez muito arrogantes. Quero ser Teu alimento, quero ser conforto. Quero ser o refúgio de um Grande Homem.
Desde que Te conheci a vida é poesia, é improviso. Uma sucessão de acordes maiores e menores intercalados, surpresas, beleza que nasce de um parto dissonante.
Espelho
(Eugênio de Andrade)
Que rompam as águas:
é de um corpo que falo.
Nunca tive outra pátria,
nem outro espelho;
nunca tive outra casa.
É de um rio que falo;
desta margem onde soam ainda,
leves,
umas sandálias de oiro e de ternura.
Aqui moram as palavras;
as mais antigas,
as mais recentes:
mãe, árvore,
adro, amigo.
Aqui conheci o desejo
mais sombrio, mais luminoso;
a boca
onde nasce o sol,
onde nasce a lua.
E sempre um corpo,
sempre um rio;
corpos ou ecos de colunas,
rios ou súbitas janelas
sobre dunas;
corpos:
dóceis, doirados montes de feno;
rios;
frágeis, frias flores de cristal.
E tudo era água,
água,
desejo só
de um pequeno charco de luz.
De luz?
Que sabemos nós
dessas nuvens altas,
dessas agulhas
nuas
onde o silêncio se esconde?
Desses olhos redondos,
agudos de verão,
e tão azuis
como se fossem beijos?
Um corpo amei;
um corpo, um rio;
um pequeno tigre de inocência
com lágrimas
esquecidas nos ombros,
gritos
adormecidos nas pernas,
com extensas,
arrefecidas
primaveras nas mãos.
Quem não amou
assim? Quem não amou?
Quem?
Quem não amou
está morto.
Piedade,
também eu sou mortal.
Piedade,
por um lenço de linho
debruado de feroz melancolia,
por uma haste de espinheiro
atirada contra o muro,
por uma voz que tropeça
e não alcança os ramos.
De um corpo falei:
que rompam as águas.
Domingo chuvoso, um MONTE de coisas sérias para resolver... momento “ideal” para parar, escrever um texto e tentar tirar um pouco do aperto do peito. Risos.
Algum dia eu queria compreender e ter vivido e conhecido gente o bastante para fazer uma análise do que atrai as submissas ao BDSM. O que buscam na sua procura, que significados faltam para preencher suas vidas. Seria leviano da minha parte afirmar qualquer coisa agora, então vou tentar falar superficialmente do que diz respeito a mim. Espero depois poder retomar o tema.
O que me levou ao BDSM além do meu delírio adolescente com os vilões dos filmes, ou do meu gostar de alguns tipos de dor, ou das minhas fantasias fetichistas? O que me levou Àquele que escolhi para me machucar?
Creio que um forte elemento é a busca de aceitação. Um dos meus pilares e problemas centrais.
Sempre sofri com preconceitos por motivos diversos ao longo da vida. Tenho uma forma peculiar de pensar que não advogo como certa para ninguém: acredito que cada um deva ser e sentir exatamente como é. Por isso não mudo meus valores e meu jeito de ser com base nas críticas de arautos da moralidade. Mudo, sim, o que fizer sentido mudar, não estou inerte nem fechada. Contudo sofro, especialmente quando a reprovação – ou possível reprovação – vem das pessoas que mais amo. Sempre me surpreendo com aquela sensação de que estou fazendo algo errado. Como pode ser errado o que se sente tão certo...?! Tal é o efeito dos julgamentos sobre mim.
Cada relação em que se envolve ou se permite envolver é uma questão de entrega. Se não houver entrega, por que chamar de relação uma foda de final de semana? Me relaciono, portanto, com quem quero dividir minha vida. Meus sonhos, minhas ansiedades, minha felicidade, meu crescimento e minhas imperfeições. E espero que a outra parte faça o mesmo. E espero... esse é o verbo recorrente, por mais que se tente afastá-lo (tento e tentarei...) Quem ama tem expectativas, sempre, que são constantemente frustradas, retribuídas e superadas. Por isso escolher alguém para se relacionar e, mais, para amar, incondicionalmente, é escolher Quem irá lhe machucar.
Aquele que escolhi para me machucar tem virtudes lindas e defeitos vis. Poderia até ter algumas falhas de caráter, que seriam apreciadas aliás, pois todo o conjunto O torna humano, e meu amor só pode ser calcado na realidade desse Ser Humano lindo.
Aceitação. Essa é a palavra.
O que eu busco no instante, e na contingência que é a vida, é ser aceita por Este Homem. Quero estar acolhida em Suas mãos e realizar os Seus desejos. Aceitação é pertencer, e quero que um dia se reconheça que há muito pertenço Àquele que, desde o primeiro momento me disse, quando nem sabíamos o rumo que a coisa iria tomar: eu vou ser seu Dono, oras.
Que o destino possa ser cumprido.