sábado, 25 de abril de 2009


















Farewell y los sollozos

1

Desde el fondo de ti, y arrodillado,
un niño triste, como yo, nos mira.

Por esa vida que arderá en sus venas
tendrían que amarrarse nuestras vidas.

Por esas manos, hijas de tus manos,
tendrían que matar las manos mías.

Por sus ojos abiertos en la tierra
veré en los tuyos lágrimas un dia.

2

Yo no lo quiero, Amada.

Para que nada nos amarre
que no nos una nada.

Ni la palabra que aromó tu boca,
ni lo que no dijeron las palabras.

Ni la fiesta de amor que no tuvimos,
ni tus sollozos junto a la ventana.

3

(Amo el amor de los marineros
que besan y se van.

Dejan una promesa.
No vuelven nunca más.

En cada puerto una mujer espera:
los marineros besan y se van.

Una noche se acuestan con la muerte
en el lecho del mar.)

4

Amo el amor que se reparte
en besos, lecho y pan.

Amor que puede ser eterno
y puede ser fugaz.

Amor que quiere libertarse
para volver a amar.

Amor divinizado que se acerca.
Amor divinizado que se va.

5

Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.

Fuy tuyo, fuiste mía. Qué más? Juntos hicimos
un recodo en la ruta donde el amor pasó.

Fui tuyo, fuiste mía. Tú serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo que he sembrado yo.

Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.

...Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y jo le digo adiós.

Pablo Neruda

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Eu nunca guardei rebanhos

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pelas mãos das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural -
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa







domingo, 5 de abril de 2009

Sobre cacos e cordas


Acaso num mundo de fantasia existisse uma corda que, com o uso e o tempo arrebentasse, dela cairiam todos aqueles que estivessem por cima a pisá-la.

O golpe ao chão seria duro, no entanto tal tese não procede: o que existe são pessoas (sim, pessoas, por mais que isso possa causar surpresa aos menos observadores), que tentam da sua forma fazer algo belo, com todos os seus defeitos mas também qualidades e generosidades. Essas pessoas sentem, cantam, riem e também choram sozinhas num banheiro sujo, como já dizia Cazuza.

Pessoas são capazes de superações. São capazes de dar tudo e desse dar tudo não sobrar nada, apenas uma dor que ameaça explodir o peito. Mas são capazes de, já deformadas, já com dificuldade de reconhecerem a si mesmas, parar.

Desistir de alguma coisa pode parecer fraqueza, e frequentemente é. Porém pode ser um ato de coragem. Pode ser partir de uma dor que você já conhece para outras, desconhecidas; pode significar a escolha por enfrentar o seu maior medo. Desistir não dói tanto como imaginam, pelo menos não quando se sabe de cara limpa que se tentou tudo o que podia. Pelo contrário, proporciona uma estranha paz, essa sensação tão distante no tempo.

Eu havia dito uma vez que amar e se entregar era se jogar num abismo sem ter a menor certeza que haveria alguém do outro lado para nos socorrer. Ainda acredito nisso, e acho que o amor seria um sentimento menor se fosse diferente. Mas os cacos da nossa queda ao chão, esses não devem ser eternos nem escondidos.

As mãos à nossa espera no fundo do poço são as nossas mesmas; somos nós que devemos encontrar força na nossa infinita capacidade de recomposição. Nessa hora a gente ri porque nunca pensou em guardar os cacos em caixa alguma. Porque a vida não existe para ser feita de mágoas nem para que nossas dores sejam adoradas em altares. O amor não é feito para doer, relações não são feitas para doer; existem para dividir tudo (seres sociáveis que somos), inclusive dores, mas o que se busca é a convivência harmoniosa, são as alegrias, descobertas, cumplicidades, construções, revelações e ensinamentos que um ser humano (pessoa :p) pode proporcionar ao outro.

Dor, concordo com minha amiga jullia{Ivan}, autora de reflexões sempre muito boas, é efeito colateral.
Dor não é estandarte nem essência de nada, nem desejo de quem não seja masoquista.

Nesse sentido cada minuto que passa e cada coisa que se transforma não é algo que perdemos. Cada minuto é ganho. A gente deve passar o tempo como quem vive, não como quem está constantemente morrendo. O tempo não pode ser mais fator de lamentação para quem já levou tantos tombos.

Esbarrei com essa poesia do Drummond que achei muito linda:

Igual-Desigual

Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em verso livre são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.

Não vejo filmes, partidos políticos e amores como iguais. Mas de fato todo ser humano é um estranho sem par no mundo, é ímpar. Somente o fato de sermos ímpares é que vai tornar tudo que é essencialmente igual, diferente.

Ser ímpar, isso aterroriza o ser humano. Nunca vai haver alguém que capte plenamente o que somos e o que sentimos, nunca seremos entendidos ou desvendados. Essencialmente seremos, portanto, sempre sozinhos.

Contudo, vai haver quem nos ame e encare o desafio de nos descobrir. Vai haver quem nos aceite, sejam estes amigos, famílias ou amores. E cabe a nós um desafio grande de aceitar que somos, e sempre seremos, sozinhos.

E aprender a viver bem com isso.