quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz ano novo.















Ou melhor, adeus ano velho. E que tenhamos o melhor ano novo que nós consigamos fazer.


terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Postura













De um hiato em que tive o ímpeto feminista de queimar calcinhas, sutiãs e cintas-liga de cadela, a um tempo em que vejo como fizeste da menina, mulher, revelando identidades e sutilezas, eu fui capaz de perceber;

Eu só precisava de postura: de uma única decisão que fizesse sentido em meu peito e me reconciliasse comigo mesma.

É aquela. A mesma de antes que faz e sempre fez sentido.

Eu escolho Te amar. Eu escolho estar forte para estar ao Teu lado para o que for.

Ser capaz disso me re-significou para sempre. Definitivamente, Você marcou e mudou os rumos da minha vida. Você encheu o meu coração de amor, e abriu meus olhos e minha alma para o mundo.

Me orgulho muito disso. Obrigada por tudo.

Te amo,
mia.



















Daniel na cova dos leões

(Legião Urbana)

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
Forte, cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque
Não vemos

sábado, 27 de dezembro de 2008

Cartas não enviadas - O BDSM é negro?


Como a cada dia aumenta a pilha de cartas escritas e nunca entregues, e como não quero que esse blog deixe de discutir, mesmo que num nível muito raso BDSM, para virar um muro de lamentações, resolvi postar esse texto. Achei engraçado relê-lo. Escrevi há cerca de sete meses atrás, quando tinha muitas dúvidas sobre minha submissão, dúvidas acerca de como ficaria a questão da autonomia numa relação D/s e sobre o que submeter-se implicaria de fato. Acho que todas elas foram resolvidas. Múltiplas perguntas impacientes na carta: "Você acha que sou submissa? O que identifica e caracteriza uma submissa? E uma masoquista? O que você quer de mim, o que espera de mim? Que mudanças isso implica na nossa relação? Aliás, que relação a gente tem? Que relação a gente pretende ter? E se eu não for submissa? E se eu for submissa só sexualmente? O que é ser submissa para você? Não quero discutir aqui ainda o papel da submissa, mas sua essência? Para quem reivindica BDSM como identidade sexual, como poderia ser possível estabelecer uma relação que não fosse BDSM?" Enfim, uma avalanche de perguntas nunca feitas. No fim das contas, o outro trecho da carta era muito mais elucidativo. Notei que meu medo não era nenhuma dessas coisas, que se resolveram aos poucos e no tempo certo. Meu medo era de alguém que já tinha amado muito e que conserva uma relação de amor e ódio com o próprio Amor. Ás vezes de elevação, louvando este sentimento como o mais iluminado do mundo (e realmente é), e às vezes ingratidão diante da dor. Eu descobri no BDSM identidade e que o papel do Dom ia ao encontro de tudo o que desejei na vida. E temi, pois quem tem o mínimo de sensibilidade e intuição acaba temendo sempre com razão.

"Sobre meus medos, tentando entender a origem de toda essa angústia.

Supondo que seja esse o caminho que vamos trilhar. Digo caminho porque tudo é um processo. Não existe submissa pronta, tenho muito, mas muito mesmo a aprender, e como processo interno acho que será bastante tortuoso e difícil (embora eu vislumbre algo muito bom ao mesmo tempo).

Tem características que você reivindica como de uma relação D/s que mexem demais comigo. Toda vez que você fala sobre me proteger e me cuidar, você talvez não tenha idéia do impacto que isso tem sobre mim.

É claro que pessoas me cuidaram, cada um da forma que pôde, mas eu SINTO que ninguém nunca me protegeu.

Isso me dói demais. Ninguém nunca me protegeu.

Eu teria inúmeras situações para relatar aqui. Desde as crianças fazerem roda em volta de mim no colégio e me pressionarem até eu chorar e ninguém nunca aparecer para me defender. Até questões mais sérias de humilhação publica em relação à minha sexualidade. Aqui cabe contar, se você quiser ouvir, um episódio muito marcante para mim.

Eu aprendi a ser "forte" porque não havia ninguém para me defender. As pessoas me acham forte e corajosa e eu me sinto frágil. Eu digo as coisas de forma incisiva e estou chorando por dentro. Depois do teatro, num canto escuro do meu quarto eu, invisível, choro. Me sinto fraca. Eu continuo a mesma mia de antes, que chorava no recreio. Eu só aprendi a fingir melhor em público. Por isso quando penso no que você faz vejo que é uma questão de vocação mesmo. Para mim seria um pesadelo, eu iria aos poucos morrer por dentro. Embora exista o lado muito político de militar no movimento. Eu gosto e não gosto da disputa. Gosto de "esculachar" esses filhos da puta quando eles sofrem uma derrota pois sei que lutamos por algo que é muito justo. Mas ao mesmo tempo, a disputa me avilta. Saber que o mundo está repleto desse tipo de gente, que são eles que estão no poder e dão as diretrizes me deixa muito revoltada, a ponto que parei de achar que isso tudo seria só coincidência e passei a me importar com a questão "existe ou não um Deus" para ficar na dúvida entre sua inexistência ou seu glorioso reinado como um grandissíssimo filho da puta. Sem ofensas a você.

Voltando e pegando o gancho. Eu disputo contra o que acho injusto e isso não diz respeito só ao âmbito do movimento. Eu disputo no sentido de afirmar o que sou, meu direito de poder viver minha sexualidade, por exemplo. Disputo meu direito de ser diferente, com a família, com os amigos, no trabalho. Embora esteja sendo muito mais omissa do que era. Para você entender: ao mesmo tempo que não vou anular as minhas diferenças para que os outros gostem de mim, tenho uma necessidade imensa de ser aceita. Atualmente vivo essa fase: não me anulo, as pessoas me aceitam porque estou vivendo uma mentira.

Onde você entra nisso? Você já vai entender.

Não é para fazer sentido. Estou falando de medos aqui, e eles muitas vezes são irracionais.

Você me trata bem. Você demonstra que gosta de mim, lembra de mim, essas coisas. Estou apaixonada por você. Alterno entre momentos de extrema felicidade e de uma rejeição antecipada. Me questiono se em breve não vai chegar o tempo em que você não irá me aceitar. Que vai achar um despropósito ser honesto comigo. Que vai se arrepender de ter me dito que iria me cuidar e me proteger.

Peço que você reflita. Você me disse que não irá me faltar. Pense bem se você quer isso mesmo, pois eu não consigo pensar em algo que eu deseje mais que isso no mundo.
É isso?

Conversando sobre BDSM e tentando entender um pouco mais, sem fazer nenhuma menção a esse assunto diretamente, olha o que ouvi de uma submissa. Sem querer fui ao encontro de tudo o que temo. Antes de falar, saiba que não acho que nenhuma experiência é igual a outra e que não estou estendendo isso a você. Ouvi que o BDSM não é cor de rosa, e sim negro. Que é uma montanha russa de emoções, e que essa estória do Dom cuidar da sub e não faltar era mentira. Era a sub que tinha estado lá o tempo todo, sem faltar com o Dom. Era ela quem tinha cuidado dele, no fim das contas."



domingo, 21 de dezembro de 2008

Um poema bonito...


que eu tinha lido há muito tempo e me veio à tona recentemente.


Sutra do Girassol (Allen Ginsberg)

Caminhei nas margens do abandonado cais de lata onde outrora
descarregavam banana e fui sentar na sombra enorme de uma locomotiva lá perto
para olhar e chorar o sol morrendo em ladeiras sobre as casas todas iguais.
Jack amigo Kerouac sentou-se ao lado no ferro de um mastro roto partido
e a gente caiu na maior fossa do mundo, os dois ilhados, dois contidos
na rede das raízes de aço,
e eu e Jack pensando os mesmos pensamentos da alma.
No rio a correnteza de óleo refletia o céu rubro, o sol caía
pelas alturas finais de San Francisco, sem que houvesse
peixe nessas águas, sem que houvesse um ermitão nas montanhas, só a gente
com olhos de ressaca e remela, feito vagabundos, cheios de astúcia e cansaço.
Olha só um girassol, Jack então disse, e havia o vulto inerte e cinzento
seco, do tamanho de um homem, recostado
num monte milenar de serragem.
- Eu pulei de alegria e era o primeiro girassol de minha vida, eram memórias
de Blake - essas visões - o Harlem
e os rios do inferno-leste, sanduíches indigestos trotando
um ranger de pontes, carrinhos de bebê encalhados, esquecidos
pneus de bojo negro careca, penicos
& camisas-de-vênus, o poema da margem, canivetes, nada inox, só o mofo
o lixo de tantas coisas cortantes cujo fio passava
para o passado -
e o cinzento girassol se equilibrando ao sol-posto,
desmanchando-se abatido na invasão da fuligem, da fumaça, do pó
de velhas locomotivas no olho -
corola e também coroa com as pontas amassadas virando, com sementes
despencando do rosto, rompendo em breves dentes um dia
claro, raios de sol grudando em seu cabelo riscado
como uma exangue teia de aranha de arame;
caule com braços-folhas jogados, os gestos da raiz de serragem,
pedaços de reboco minando nos galinhos queimados
e uma mosca estagnada no ouvido,
você de fato era uma incrível coisa imprestável, ó meu girassol minha
alma, e como eu te amei então!
sujeira não era parte do homem, era a parte da morte e das locomotivas
humanas,
simples roupa empoeirada, o simples véu da pele férrea, a cara
da fumaça, as pálpebras da escura miséria, a mão
ou falo ou tumor mortiço do imundo motor moderno industrificial disso
tudo, o bafo da civilização poluindo
tua coroa muito louca de ouro -
esses turvos pensamentos de morte, a grande falta
de amor em fins e olhos tapados, raízes abafadas em areia
e serragem, os dólares raspantes elásticos, o couro das máquinas, as
tripas enroscadas de um carente carro que tosse, as solitárias
latas baratas com línguas rotas de fora, e o que mais seja, a cinza
que escorre pela boca na ereção de um charuto, a boceta
de um carrinho de mão, ou os seios acesos de viaturas lácteas, o rabo gasto
que as cadeiras expelem, o esfíncter dos dínamos - tudo
isso embolado nas raízes-múmias -
e você aí de pé na minha
na tarde da minha frente, a sua glória em sua forma!
beleza perfeita, um girassol! uma tranqüila e girassol existência
excelente e perfeita! um olho doce natural para a melancolia da lua
nova, desperto vivo excitado
sacando no crepúsculo sombra a brisa mensual de ouro aurora!
enquanto você lançava blasfêmias
para o céu da via férrea e sua própria floralma,
quantas moscas zumbiram na sua extrema imundície
sem ligar para nada?
Quando, flormortapobre, você esqueceu que é uma flor?
quando olhou sua pele e decidiu que era a velha
suja locomotiva impotente? o fantasma de uma
locomotiva? o espectro e sombra de uma já poderosa
locomotiva americana maluca?
não, girassol, você não foi locomotiva nunca, você foi sempre um girassol!
você, locomotiva, você é o motivo louco de sempre, a locomotiva!
pensando isso peguei o grosso girassol esqueleto e o finquei a meu lado
como um cetro
fiz o meu sermão à minha alma, e também à de Jack, e tambérn à de todos
que ainda queiram ouvir:
Não somos a sujeira da pele, não somos nossa locomotiva medonha triste
poeirenta com ausência de imagem, nós somos todos uns lindos girassóis
por dentro, somos sagrados por nossas próprias sementes &
peludos pelados dourados corpos de ação virando girassóis ao crepúsculo
loucos girassóis formais e negros que esses olhos espiam
na sombra da locomotiva maluca margem beira
San ladeiras Francisco
tarde de lata
sol-posto sentar-se vision.


E quem quiser ouvir o que toca na minha cabeça há vários dias, pode ir em:
http://www.youtube.com/watch?v=O6txOvK-mAk

sábado, 20 de dezembro de 2008

Wilde disse algo mais ou menos assim: Há duas verdadeiras tragédias na vida - uma é não conseguir o que se deseja. A outra é conseguir.
Por aí muitos advertem: tenha cuidado com o que deseja pois pode se tornar realidade.

Somente uma vez na vida eu desejei algo com muita intensidade e isso me foi dado. Nem a cura para um câncer foi desejada de forma tão sincera e intensa. Maldita seja eu.
No momento em que me dei conta disso, me senti amaldiçoada pelos meus desejos.

Mas... peraí.

Justamente um pedido derradeiro e mal formulado? Como pode?

Tinha um objetivo muito claro no que eu estava pedindo: escancarar os problemas para então superá-los em nome de algo belo e maior.

Tenho certeza de que Deus, caso tenha ingerência sobre o assunto, faz interpretações sistemáticas e não literais. Então...

Não, Senhor. Eu não quis dizer exatamente aquilo. E você entendeu isso muito bem.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Oração de uma campeã moral























Que sejam eternos os meus grilhões
aos quais o ódio divino me condena
Que sejam difíceis as minhas escolhas
e muito grandes as minhas perdas
Que eu nunca visualize Justiça
e as vitórias sejam sempre efêmeras
Que tudo que eu ame
simplesmente
desapareça.

Que o salto seja sempre alto
e o abismo sempre profundo
Que eu me lance no vazio, sozinha
sem encontrar
meu lugar nesse mundo.

Que eu seja e esteja sempre no abandono
e me forje na fome, na saudade, no frio
Que eu chore baixinho ao ver teu leito vazio na cama
E, por fim
que me seja sempre tomado tudo o de mais belo que me é dado.
Fogo sobre terra
Vinicius de Moraes / Toquinho

A gente às vezes tem vontade de ser
Um rio cheio pra poder transbordar
Uma explosão capaz de tudo romper
Um vendaval capaz de tudo arrasar

Mas outras vezes tem vontade de ter
Um canto escuro onde poder se ocultar
Um labirinto onde poder se perder
E onde poder fazer o tempo parar

Oh, dor de saber que na vida
É melhor de saída
Ser um bom perdedor
Amor, minha fonte perdida
Vem curar a ferida
De mais um sonhador

"Vou colecionar mais um soneto..."

(essa coisa ruim abaixo é algo que escrevi há umas semanas atrás e não tinha postado)


Do amor também nascem as chagas
Do belo fica só a lembrança
As lembranças esmorecem em cinzas
Tudo muda, tudo perece, tudo se apaga

A vida, esse espelho quebrado
sonhos que voaram pelo caminho
O tempo, mensageiro da derrota
devora-me, amontado de cacos.

Mas das chagas também nasce o amor
O esquecimento tudo transforma
O novo constrói esperanças
Das cinzas uma flor brota

Bela flor, que nasce tímida
e que em tão pouco tempo fenece
Tão fugaz, tão éterea
Lança ao solo tuas sementes
De onde brotará outra flor
e danças, e cores, e sonhos
e outras flores
e dores.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008




"Perversidade é um mito inventado por gente boa para explicar o que os outros têm de curiosamente atrativo"

- Oscar Wilde -

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Cumplicidade


















Porque o amor genuíno constrói e não destrói

Porque minha missão é dar prazer e fazer feliz
Porque Teu sangue é o meu
Porque Tu és o meu Dono
Porque quero crescer e fazer crescer

Eu me empenho para trazer a paz que mereces
E me torno Tua cúmplice em todas as descobertas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008





"A vida é uma longa lição de humildade."

quinta-feira, 27 de novembro de 2008


Para o Dono do meu amor

Que todos pensem que enxergo BDSM de uma forma insuportavelmente romântica. Não sei e não me importo. Pouco tenho a falar de uma relação D/s ou de mim que não soe como um hino ao amor. Nele tudo se define. Começarei de novo, portanto, deixando claro que é apenas minha opinião.

Amor, entrega e submissão

1) Submissão e entrega

Sempre tive dificuldade de entender um certo discurso de algumas submissas quando falavam de entrega total a um Dominante como se nunca esperassem nada Deles ou da relação. Lembro de ter lido um texto de uma Domme elucidando isso, ela dizia que, no mínimo, uma submissa esperava ser amarrada, amordaçada, usada, enfim, ter suas fantasias de qualquer espécie realizadas, e que era uma hipocrisia dizer o contrário.

Dentro de mim eu pensava que seria impossível uma submissa se doar a uma relação unilateral, na qual ela vivesse somente coisas que considerasse horríveis e aviltantes. E, mais, que nenhum Dominante que se preze poderia impor somente traumas a Sua submissa sem preocupar-Se minimamente com seu prazer e crescimento.

Partindo da premissa de que a submissa espera sim, muitas coisas de seu Dominante, como falar de entrega?

Há que se distinguir entre desejar intensamente alguma coisa e condicionar todo e qualquer ato à obtenção do objeto de desejo.

Se o que a "submissa" chama de entrega está condicionado aos resultados que deseja obter, então não há nem nunca houve entrega. Conseqüentemente não há submissão plena.



2) Entrega e amor

Se a entrega não está condicionada ao que se deseja, se dela não se exige nada em troca, ela só pode ser uma conquista do Dominante.

É o Dominante que conquista respeito por tudo o que É. É por Seu talento para impor autoridade e empoderar-Se que Ele recebe, de bom grado, tudo o que queira.

Entregar-se sem exigir nada em troca é atirar-se no abismo e, para mim (opinião muito particular), somente o amor é que irá possibilitar isso.

Vou falar um pouco do que significa amor para mim, já que vejo tanta gente por aí falar em amor irresponsavelmente. Julgo e não serei politicamente correta.

Em geral as pessoas estão fechadas. Elas andam por aí com suas almas trancadas por cadeados. Elas se propõem a se relacionar, a formar famílias, a prometer o que não se promete, a eternidade. Elas não querem olhar e mergulhar fundo no outro, entender a necessidade do outro, romper barreiras. Elas querem um espelho que somente lhes mostre o que é belo, e chamam de amor pelo outro o que na verdade é apenas amor por si mesmas.

Essas pessoas se apaixonam por uma imagem, ou pela possibilidade de ter os seus desejos atendidos, mas não estão dispostas a fazer concessões. De tal forma que buscam apenas um par que as façam sentir menos sozinhas e menos nada do que somos diante da imensidão, da imprevisibilidade e do absurdo que são o mundo e a vida.

Elas dão, mas esperando sempre algo em troca. Se não recebem se sentem indignas, ridículas, humilhadas. Desestimulam em si próprias o crescimento de sentimentos belos porque sentem que se não forem correspondidas exatamente na mesma medida restarão inferiorizadas. Tudo isso porque não vêem a grandeza do ato de amar, e usam e maculam por aí o nome do amor em vão.

O amor não pode ter finalidade. O amor é um fim em si mesmo.

Por isso só consigo reconhecer o amor com traços de entrega característicos de Dominação ou de submissão. De um lado o amor que cuida, que protege de todos os perigos, que ensina, molda, corrige, faz crescer, que está disposto a matar e a morrer por alguém. De outro lado, o amor que suporta todo o peso sobre os ombros com a leveza de um sorriso, que aceita, concede, empodera, que é refúgio e base sólida, que está disposto a matar e a morrer por alguém.

Amor só serve se for de peito aberto. O amor não tem orgulho nem pudores. Porque amar é atirar-se num abismo independente de qualquer certeza de que alguém irá socorrê-lo. Amar é morrer nas mãos do outro.


sábado, 22 de novembro de 2008


Obrigada por me corrigir, Dono.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sobre "sair do armário" BDSM

Não acho que todos possam, devam ou queiram mostrar a cara. Vivemos numa sociedade muito preconceituosa e ninguém deveria ser “obrigado” a suportar uma enorme carga de incompreensão no seu dia a dia. Muitos aqui não podem se expor, ou por serem figuras públicas, ou por trabalharem num meio muito conservador, ou por terem famílias tradicionais, o motivo não importa, se expor é uma decisão muito pessoal e íntima de cada um. Eu mesma não poderia fazê-lo, pelo menos não no trabalho, pois minha área é a jurídica e as pessoas são extremamente preconceituosas (em regra). Não quero que isso me atrapalhe a defender meus interesses e as coisas que acredito no direito. Mas busco sim, como um dos meus objetivos de vida, um dia chegar e me assumir publicamente sem medo (opção pessoal). Por que isso?

Eu tenho enorme gratidão por algumas figuras históricas, artistas, escritores, que ousaram na sua época, a despeito de tudo e de todos, expor a sua condição. São pessoas que muitas vezes foram perseguidas e terminaram suas vidas desgraçadas. Sade, Wilde, quantos exemplos podemos colocar aqui? Imaginem o que seria de mim, mia, no século XXI, que já me senti anormal e tive vários dilemas internos ao descobrir o que considero como sendo parte da minha identidade, se essas pessoas não tivessem tido a coragem de se expor? Que referencial eu teria? Tenho uma admiração enorme em relação àqueles que dão a cara a tapa.

Quer queiramos ou não, o discurso médico e psiquiátrico continua a nos desqualificar como doentes e loucos, e o discurso jurídico nos criminaliza. Embora não aconteça na prática (não conheço casos aqui no Brasil, mas já vi acontecer no exterior), nosso comportamento pode muito bem ser tipificado como lesão corporal e considerado crime, e se for um Dom e uma sub, poderia muito bem ser enquadrado na recente lei Maria da Penha, não? Violência doméstica, penas aumentadas. A lei não quer saber se o que você estava fazendo era SSC.

Querer uma exposição maior da nossa comunidade significa que eu quero converter o mundo baunilha ao BDSM? Não. Que eu defenda que todos batam palmas para a nossa conduta sexual? Não. Que eu queira expor minuciosamente minhas preferências às minhas tias-avós nas festas de família? Não. Eu quero apenas o mínimo de respeito. Eu quero poder viver minha vida sem me esconder como se eu estivesse fazendo algo de errado. Sem ser classificada como doente, anormal, pervertida, maluca. Eu quero parar de ficar preocupada sobre se esqueci no desktop do computador conversas com o Dono, ou sobre onde devo guardar objetos e roupas SM para que ninguém veja.

Talvez seja até um pouco infantil da minha parte, mas é um momento muito bonito esse da minha descoberta como submissa e eu sinceramente gostaria de dividir aqui em casa e parar de mentir ou omitir, isto se a sociedade fosse outra. Já tenho uma péssima experiência e alguns traumas em relação à descoberta da minha bissexualidade pelos meus pais, não sei se encaro outra não. Mesmo assim, penso muito em dizer, e eu sempre acabo me expondo de uma forma de outra, com amigos, na faculdade, trabalho um pouco, mas com certo bom senso. É uma sensação boa, pois tenho orgulho do que sou e sinto e da minha relação com meu Dom.

Como a sociedade poderá ser outra se ninguém nunca tiver coragem de se expor?

Concordo com alguém que disse que devem mostrar a cara aqueles que se dispuserem, e não devem aqueles que não queiram e não possam. Agora existem níveis do “mostrar a cara”. É pedir demais que alguém apareça no Fantástico (rs)? Sim. Talvez aqueles que vivam BDSM 24/7 topassem isso e eu ficaria muito admirada. Mas existem outras formas tão importantes quanto a exposição pública, como a exposição privada, por exemplo. É a mudança que podemos fazer nos nossos espaços de convivência, mostrando às pessoas que possuem laços conosco que BDSM não é doentio, que pode ser vivenciado de uma forma saudável. Na medida em que elas percebem como isso nos faz bem, rompem-se preconceitos e, através das pequenas mudanças, quem sabe um dia a sociedade não estará transformada?

O que eu proponho, portanto? Acho que temos que nos organizar, acho que temos que nos conhecer melhor e, com base no que somos, discutir sim as melhores estratégias para expor a comunidade BDSM à sociedade. Nesse processo, quem quiser dá a cara a tapa, quem não quiser ou puder, não dá. Espero, até lá, ter coragem e possibilidades de estar no primeiro grupo.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Amar você é coisa de minutos (Leminski)


Amar você é coisa de minutos

A morte é menos que teu beijo

Tão bom ser teu que sou

Eu a teus pés derramado

Pouco resta do que fui

De ti depende ser bom ou ruim

Serei o que achares conveniente

Serei para ti mais que um cão

Uma sombra que te aquece

Um deus que não esquece

Um servo que não diz não

Morto teu pai serei teu irmão

Direi os versos que quiseres

Esquecerei todas as mulheres

Serei tanto e tudo e todos

Vais ter nojo de eu ser isso

E estarei a teu serviço

Enquanto durar meu corpo

Enquanto me correr nas veias

O rio vermelho que se inflama

Ao ver teu rosto feito tocha

Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha

Sim, eu estarei aqui


sexta-feira, 14 de novembro de 2008


Monólogo interior indecente



“Mãe, esse meu ‘namorado’ é o que a Sra. sempre recomendou para mim. Ele me aceita, me protege e me trata como um homem de verdade deve tratar uma mulher.


Ele me faz andar de quatro no chão como uma cadelinha enquanto me puxa pelos cabelos e eu empino o meu cuzinho. Ele me põe ajoelhada para que eu O chupe enquanto fode minha garganta. Ele bate e esfrega o pau na minha cara e eu quase gozo. Ele ordena que eu me toque e eu rezo para que monte em cima de mim. Ele me dá água para beber no seu pau se eu for boazinha, e me pune sempre que eu mereça. Ele me diz humilhações no pé do ouvido que me deixam toda arrepiada e molhada. Ele me olha nos olhos enquanto aperta os meus mamilos e cospe na minha cara.


Eu olho para o meu Senhor com gratidão e mal consigo me conter de tanto prazer que me dá. Ele me amarra, me bate, me usa, me fode. Eu gemo como uma puta. Ele me vira e, como um bicho, mete violentamente Sua vara em mim enquanto me beija. Eu gemo muito e quase grito, eu imploro internamente para que me viole ao máximo. E sorrio quando percebo que meu Dono vai gozar dentro de mim. E, assim, posso gozar também, enquanto sua porra escorre pelas minhas pernas, mamãe.”



quarta-feira, 12 de novembro de 2008


Só porque eu luto, não quer dizer que eu seja forte.
Só porque eu choro, não quer dizer que eu seja fraca.
Só porque eu não entendo ou muitas vezes odeio a Deus, não quer dizer que eu não tente ter uma ética cristã.
Só porque eu não peço não quer dizer que eu não deseje com todas as minhas forças.
Só porque eu calo não quer dizer que eu não ame desesperadamente.

Não quero soar pós-moderna, mas a verdade é muitas vezes uma construção e o que fazemos dela.

Nem tudo é o que parece.













terça-feira, 4 de novembro de 2008

Aos Teus pés, Senhor meu Dono




















Lembra de quando deixei essa poesia na Sua carteira?


Uma mulher espera por mim
(Whitman)

Uma mulher espera por mim, nela tudo se contém, não falta nada,
No entanto faltaria tudo se lhe faltasse o sexo ou a umidade do homem certo.

Tudo se contém no sexo, corpos, almas,

Significados, provas, purezas, delicadezas, proclamações, efeitos,

Ordens, canções, higidez, orgulho, o mistério materno, o leite seminal,

As esperanças todas, bens, outorgas, todas as paixões, belezas, amores, os deleites da terra,

Todos os governos, juízes, deuses, o cortejo de pessoas da terra,
Tudo se contém no sexo como partes de si e justificações de si.


Sem pejo o homem de quem gosto sabe e confessa as delícias do sexo,

Sem pejo a mulher de quem eu gosto sabe e confessa as do sexo dela.


Pois eu me afasto das mulheres insensíveis,

Para ficar com a que espera por mim, e com as mulheres de sangue quente que me satisfazem,

Eu vejo que elas me compreendem e não me repudiam,

Vejo que são dignas de mim e eu serei delas o marido vigoroso.


Essas mulheres não são em nada inferiores a mim,

Têm o rosto tisnado pelo brilho dos sóis e pelo sopro dos ventos,

Há na carne delas, antigas e divinas, agilidade, força,

Elas sabem nadar, remar, montar, lutar, atirar, correr, bater, recuar, avançar, resistir, defender-se sozinhas,

São supremas por direito próprio- são calmas, límpidas, donas de si mesmas.

Puxo vocês para junto de mim, mulheres,

Não as posso deixar ir, vou lhes fazer bem

Existo para vocês e vocês para mim, não apenas para o nosso bem, mas para o bem dos outros,
Envoltos em você dormem grandes heróis e bardos,
Eles se recusam a acordar pelo toque de outro homem que não eu.


Sou eu, mulheres, abro o meu caminho,

Sou severo, cáustico, indissuadível, mas amo vocês,

Não as machuco mais que o necessário a vocês mesmas,

Derramo a substância geradora de filhos e filhas dignos destes Estados, assedio com músculo pausado e rude,

Me firmo eficazmente, não dou ouvido a rogos,

Não ouso retirar-me sem depositar o que há de muito acumulei dentro de mim.


Através de vocês eu dreno os rios enclausurados de mim mesmo

Em vocês concentro mil anos de futuro,

Em vocês faço enxerto dos tão amados por mim e pela América,

As gotas que em vocês destilo farão medrar moças atléticas e ardentes, novos artistas, músicos, cantores,

As crianças que em vocês procrio vão procriar, por sua vez, outras crianças,

Exigirei, dos meus dispêndios amorosos, homens e mulheres perfeitos,

Eles irão se interpenetrar, espero, como eu e você agora nos interpenetramos,

Contarei com os frutos dos generosos aguaceiros deles como conto com os frutos dos aguaceiros que ora entorno.

Vou ficar à espera das ternas colheitas do nascimento, vida, morte, imortalidade
Que tão amorosamente planto agora.

sábado, 1 de novembro de 2008

Sobre o sentimento de utilidade






















Rapidamente, porque já é de madrugada, gostaria de externar um pouco o que já achava sobre o sentimento de utilidade e mais uma vez me veio à tona numa discussão no trabalho sobre formas de organização popular (portanto, nada a ver com BDSM a princípio, aparentemente).

Foi uma conversa simples entre jovens confusos entre um modelo de organização horizontal em que todos discutam e decidam tudo conjuntamente e outro em que haja uma coordenação que discuta sim, mas que centralize e decida algumas questões essenciais.

Me impressiona no mundo de hoje como alguns têm dificuldades em aceitar comandos e deixar que algumas decisões sejam tomadas por eles. As pessoas enxergam como autoritarismo o fato de que possa haver qualquer instância de decisão superior a elas. E por um orgulho imbecil, vêem como desonra o ato daquele que obedece à ordem.

Não falo aqui de um obedecer cego e alienado nem tento legitimar instituições, pessoas ou circunstâncias de fato autoritárias. Outra coisa está em jogo.

Quero dizer que muito pelo contrário, não há honra maior do que ser útil. Não há nada mais bonito do que você aceitar a liderança de alguém, por admiração, por saber o quanto aquela pessoa tem experiência e, por um laço fortíssimo de confiança, abrir mão de si mesmo. Todo pequeno gesto que cada um executa faz parte de um vasto quebra cabeça em que seguir o comando é algo crucial para uma transformação. De tal forma que embora o senso comum valorize aqueles que mandam e deprecie os que obedecem, são estes últimos que concretizam tudo o que há de mais necessário.

Quando foi que a noção de ser "usado" adquiriu uma conotação tão ruim? Uma sociedade em que todos mandem é uma sociedade em colapso. Algo impossível. De tal modo que se comete um erro grave, por exemplo, na recompensa desproporcional entre trabalhos intelectuais e os manuais mais básicos. Ao meu ver quanto mais desagradável e útil o trabalho, mais ele deveria ser bem pago. Arrisco dizer que um lixeiro e uma empregada doméstica deveriam ganhar, para arrepio de alguns, mais do que um juiz.

Mas voltando a alguma espécie de foco, o fato é que eu respirei e disse algo mais ou menos assim, sorrindo internamente pois sabia que enquanto eu falava disso, também falava sobre o que o BDSM é para mim:

Refleti sobre várias áreas da minha vida, e cheguei a conclusão de que nada me satisfaz mais do que ser um cachorro. Não vejo qualquer problema em aceitar e cumprir uma decisão de alguém que eu confie plenamente, mesmo que eu não concorde. Nesse caso eu posso conversar e tentar convencer a liderança; posso conseguir ou não, o fato é que se eu não conseguir eu vou cumprir, pois simplesmente eu não estou disputando. Eu aceito como legítimo o comando daquela pessoa (e não de qualquer idiota, é bom frisar), e desta forma serei leal, e serei feliz por saber que sou um instrumento através do qual se realizam coisas boas.

No trabalho, na militância, no amor e no sexo: não há nada melhor do que estar desse lado da coleira.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Para um Dom muito amado...


O que ouviu os meus versos


O que ouviu os meus versos disse-me: "Que tem isso de novo?
Todos sabem que uma flor é uma flor e uma árvore é uma árvore."
Mas eu respondi, nem todos, (?...)
Porque todos amam as flores por serem belas, e eu sou diferente
E todos amam as árvores por serem verdes e darem sombra, mas eu não.
Eu amo as flores por serem flores, diretamente.
Eu amo as árvores por serem árvores, sem o meu pensamento.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de outubro de 2008


Minha razão e minha alma em poesia



Percorro o meu trajeto de volta ao meu país com o coração repleto de imagens belas. Memórias macias que me socorrem enquanto me fazem carinho pelos cabelos. A chuva fina molhando meu rosto na varanda. As ruas vazias do centro da cidade e o céu marrom se misturando à luz amarela dos postes. A Tua silhueta no escuro enquanto eu acompanhava Teu sono doce. Tuas sobrancelhas, Teus cílios, as marcas do tempo e do cansaço no Teu rosto. Teu sorriso, Teus dentes, Teus olhares, tudo o que me encanta. Minhas pernas no Teu peito, Teu beijo quente nos meus dedos, meu contentamento em ser Tua.

Essa perplexidade diante do real.

O frio na barriga ao encontro do novo.

Você me perguntou o que significava para mim nesse processo todo. Eu disse que Você era o pivô de muitas transformações difíceis e boas. Mas digo mais, Você é o Homem que escolhi para amar e para servir com todas as forças do meu ser. Você é meu Mestre que me conduz ao encontro da minha identidade. É objeto de carinhos, afeições, admiração e de um amor imenso. Você tem feito a roda girar e criar e recriar novos sentidos.


Não entendo quando diz que tem dificuldade de compreender o porquê de tanta dedicação minha nesse período difícil. Muitas vezes eu me envergonho por não me achar interessante, inteligente e bonita o bastante para Te entreter ou satisfazer por muito tempo.

Sou Tua. Minhas pretensões são grandes e talvez muito arrogantes. Quero ser Teu alimento, quero ser conforto. Quero ser o refúgio de um Grande Homem.


Desde que Te conheci a vida é poesia, é improviso. Uma sucessão de acordes maiores e menores intercalados, surpresas, beleza que nasce de um parto dissonante.





Espelho

(Eugênio de Andrade)

Que rompam as águas:
é de um corpo que falo.

Nunca tive outra pátria,
nem outro espelho;
nunca tive outra casa.

É de um rio que falo;
desta margem onde soam ainda,
leves,
umas sandálias de oiro e de ternura.

Aqui moram as palavras;
as mais antigas,
as mais recentes:
mãe, árvore,
adro, amigo.

Aqui conheci o desejo
mais sombrio, mais luminoso;
a boca
onde nasce o sol,
onde nasce a lua.

E sempre um corpo,
sempre um rio;
corpos ou ecos de colunas,
rios ou súbitas janelas
sobre dunas;
corpos:
dóceis, doirados montes de feno;
rios;
frágeis, frias flores de cristal.

E tudo era água,
água,
desejo só
de um pequeno charco de luz.

De luz?
Que sabemos nós
dessas nuvens altas,
dessas agulhas
nuas
onde o silêncio se esconde?
Desses olhos redondos,
agudos de verão,
e tão azuis
como se fossem beijos?

Um corpo amei;
um corpo, um rio;
um pequeno tigre de inocência
com lágrimas
esquecidas nos ombros,
gritos
adormecidos nas pernas,
com extensas,
arrefecidas
primaveras nas mãos.

Quem não amou
assim? Quem não amou?
Quem?
Quem não amou
está morto.

Piedade,
também eu sou mortal.
Piedade,
por um lenço de linho
debruado de feroz melancolia,
por uma haste de espinheiro
atirada contra o muro,
por uma voz que tropeça
e não alcança os ramos.

De um corpo falei:
que rompam as águas.




terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ainda sobre julgamentos II

Filosofia

Noel Rosa

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome

Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim

Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo

Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia














Estou feliz. Me sinto com 17 anos novamente. Não tenho mais vergonha do que sinto ou digo. Tenho sido eu mesma por aí e tenho tido menos medo de me expor. Eu não quero sussurar minhas estórias pelos cantos para amigos como se eu carregasse um grande segredo ou estivesse fazendo algo errado. Eu não estou. Me sinto bem. Já não finjo tanto. Já consigo me olhar no espelho. Quanto tempo isso vai durar?
Hoje, tenho um olhar mais distraído que o usual, e por isso menos sofrido.
Vejo o mundo com outras lentes, ou como cantou bonito o poeta:

"Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo/ Prefiro acreditar no mundo do meu jeito/ E você estava esperando voar/ Mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?"
















Ainda sobre julgamentos, quero um dia sublimá-los. Tento dar alguns passos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Para Aquele cujo colo faz tanta falta...


domingo, 28 de setembro de 2008

Ainda sobre julgamentos, e um pouco sobre aceitação


Domingo chuvoso, um MONTE de coisas sérias para resolver... momento “ideal” para parar, escrever um texto e tentar tirar um pouco do aperto do peito. Risos.


Algum dia eu queria compreender e ter vivido e conhecido gente o bastante para fazer uma análise do que atrai as submissas ao BDSM. O que buscam na sua procura, que significados faltam para preencher suas vidas. Seria leviano da minha parte afirmar qualquer coisa agora, então vou tentar falar superficialmente do que diz respeito a mim. Espero depois poder retomar o tema.


O que me levou ao BDSM além do meu delírio adolescente com os vilões dos filmes, ou do meu gostar de alguns tipos de dor, ou das minhas fantasias fetichistas? O que me levou Àquele que escolhi para me machucar?


Creio que um forte elemento é a busca de aceitação. Um dos meus pilares e problemas centrais.

Sempre sofri com preconceitos por motivos diversos ao longo da vida. Tenho uma forma peculiar de pensar que não advogo como certa para ninguém: acredito que cada um deva ser e sentir exatamente como é. Por isso não mudo meus valores e meu jeito de ser com base nas críticas de arautos da moralidade. Mudo, sim, o que fizer sentido mudar, não estou inerte nem fechada. Contudo sofro, especialmente quando a reprovação – ou possível reprovação – vem das pessoas que mais amo. Sempre me surpreendo com aquela sensação de que estou fazendo algo errado. Como pode ser errado o que se sente tão certo...?! Tal é o efeito dos julgamentos sobre mim.


Cada relação em que se envolve ou se permite envolver é uma questão de entrega. Se não houver entrega, por que chamar de relação uma foda de final de semana? Me relaciono, portanto, com quem quero dividir minha vida. Meus sonhos, minhas ansiedades, minha felicidade, meu crescimento e minhas imperfeições. E espero que a outra parte faça o mesmo. E espero... esse é o verbo recorrente, por mais que se tente afastá-lo (tento e tentarei...) Quem ama tem expectativas, sempre, que são constantemente frustradas, retribuídas e superadas. Por isso escolher alguém para se relacionar e, mais, para amar, incondicionalmente, é escolher Quem irá lhe machucar.


Aquele que escolhi para me machucar tem virtudes lindas e defeitos vis. Poderia até ter algumas falhas de caráter, que seriam apreciadas aliás, pois todo o conjunto O torna humano, e meu amor só pode ser calcado na realidade desse Ser Humano lindo.


Aceitação. Essa é a palavra.


O que eu busco no instante, e na contingência que é a vida, é ser aceita por Este Homem. Quero estar acolhida em Suas mãos e realizar os Seus desejos. Aceitação é pertencer, e quero que um dia se reconheça que há muito pertenço Àquele que, desde o primeiro momento me disse, quando nem sabíamos o rumo que a coisa iria tomar: eu vou ser seu Dono, oras.


Que o destino possa ser cumprido.