terça-feira, 28 de outubro de 2008

Para um Dom muito amado...


O que ouviu os meus versos


O que ouviu os meus versos disse-me: "Que tem isso de novo?
Todos sabem que uma flor é uma flor e uma árvore é uma árvore."
Mas eu respondi, nem todos, (?...)
Porque todos amam as flores por serem belas, e eu sou diferente
E todos amam as árvores por serem verdes e darem sombra, mas eu não.
Eu amo as flores por serem flores, diretamente.
Eu amo as árvores por serem árvores, sem o meu pensamento.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 9 de outubro de 2008


Minha razão e minha alma em poesia



Percorro o meu trajeto de volta ao meu país com o coração repleto de imagens belas. Memórias macias que me socorrem enquanto me fazem carinho pelos cabelos. A chuva fina molhando meu rosto na varanda. As ruas vazias do centro da cidade e o céu marrom se misturando à luz amarela dos postes. A Tua silhueta no escuro enquanto eu acompanhava Teu sono doce. Tuas sobrancelhas, Teus cílios, as marcas do tempo e do cansaço no Teu rosto. Teu sorriso, Teus dentes, Teus olhares, tudo o que me encanta. Minhas pernas no Teu peito, Teu beijo quente nos meus dedos, meu contentamento em ser Tua.

Essa perplexidade diante do real.

O frio na barriga ao encontro do novo.

Você me perguntou o que significava para mim nesse processo todo. Eu disse que Você era o pivô de muitas transformações difíceis e boas. Mas digo mais, Você é o Homem que escolhi para amar e para servir com todas as forças do meu ser. Você é meu Mestre que me conduz ao encontro da minha identidade. É objeto de carinhos, afeições, admiração e de um amor imenso. Você tem feito a roda girar e criar e recriar novos sentidos.


Não entendo quando diz que tem dificuldade de compreender o porquê de tanta dedicação minha nesse período difícil. Muitas vezes eu me envergonho por não me achar interessante, inteligente e bonita o bastante para Te entreter ou satisfazer por muito tempo.

Sou Tua. Minhas pretensões são grandes e talvez muito arrogantes. Quero ser Teu alimento, quero ser conforto. Quero ser o refúgio de um Grande Homem.


Desde que Te conheci a vida é poesia, é improviso. Uma sucessão de acordes maiores e menores intercalados, surpresas, beleza que nasce de um parto dissonante.





Espelho

(Eugênio de Andrade)

Que rompam as águas:
é de um corpo que falo.

Nunca tive outra pátria,
nem outro espelho;
nunca tive outra casa.

É de um rio que falo;
desta margem onde soam ainda,
leves,
umas sandálias de oiro e de ternura.

Aqui moram as palavras;
as mais antigas,
as mais recentes:
mãe, árvore,
adro, amigo.

Aqui conheci o desejo
mais sombrio, mais luminoso;
a boca
onde nasce o sol,
onde nasce a lua.

E sempre um corpo,
sempre um rio;
corpos ou ecos de colunas,
rios ou súbitas janelas
sobre dunas;
corpos:
dóceis, doirados montes de feno;
rios;
frágeis, frias flores de cristal.

E tudo era água,
água,
desejo só
de um pequeno charco de luz.

De luz?
Que sabemos nós
dessas nuvens altas,
dessas agulhas
nuas
onde o silêncio se esconde?
Desses olhos redondos,
agudos de verão,
e tão azuis
como se fossem beijos?

Um corpo amei;
um corpo, um rio;
um pequeno tigre de inocência
com lágrimas
esquecidas nos ombros,
gritos
adormecidos nas pernas,
com extensas,
arrefecidas
primaveras nas mãos.

Quem não amou
assim? Quem não amou?
Quem?
Quem não amou
está morto.

Piedade,
também eu sou mortal.
Piedade,
por um lenço de linho
debruado de feroz melancolia,
por uma haste de espinheiro
atirada contra o muro,
por uma voz que tropeça
e não alcança os ramos.

De um corpo falei:
que rompam as águas.




terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ainda sobre julgamentos II

Filosofia

Noel Rosa

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome

Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim

Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo

Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia














Estou feliz. Me sinto com 17 anos novamente. Não tenho mais vergonha do que sinto ou digo. Tenho sido eu mesma por aí e tenho tido menos medo de me expor. Eu não quero sussurar minhas estórias pelos cantos para amigos como se eu carregasse um grande segredo ou estivesse fazendo algo errado. Eu não estou. Me sinto bem. Já não finjo tanto. Já consigo me olhar no espelho. Quanto tempo isso vai durar?
Hoje, tenho um olhar mais distraído que o usual, e por isso menos sofrido.
Vejo o mundo com outras lentes, ou como cantou bonito o poeta:

"Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo/ Prefiro acreditar no mundo do meu jeito/ E você estava esperando voar/ Mas como chegar até as nuvens com os pés no chão?"
















Ainda sobre julgamentos, quero um dia sublimá-los. Tento dar alguns passos.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Para Aquele cujo colo faz tanta falta...