quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Es muß sein!

2009

Eu queria fechar esse blog mas não consegui. Me deu vontade de fazer um apanhado de tudo o que aconteceu e que pulsa dentro de mim, prestes a explodir, nessa hora do dia em que já gastei tanta vida formulando teses para ajudar os outros que mal consigo encadear um pensamento a meu favor. Acho que nunca soube escrever bem coisas íntimas, por isso a fuga do campo das artes para o direito.

Mas vou começar essa confusão daqui falando de destino.

Quando se fala de destino, como já exemplifiquei com alguns trechos do "a insustentável leveza do ser", é comum que se pense o destino como um fardo. Os resquícios de eternidade colados à nossa história, não importa em qual momento da vida estejamos ou quantas reviravoltas ela tenha dado, é que parecem ser o fardo pesado chamado destino: pode ser heróico e por isso alardeado por todos os cantos por quem carrega a sua cruz; pode ser vergonhoso e por isso escondido e considerado repugnante; o destino é visto como um peso.

O destino tem o fardo de ser fardo, porque diariamente são agregados a ele pretensos valores, acontecimentos ou sentimentos de forma leviana. Tentam por aí inscrever qualquer coisa no destino, como se qualquer coisa pudesse ser nele insculpida e por isso adquirir eternidade. Nada é eterno até que se chegue ao fim (parece um paradoxo, mas não é). O amor é o tema mais recorrente nesse sentido, palavras são gastas pelas pessoas ao vento por aí, é um tal de "eu te amarei para sempre", "eu sempre te serei honrada", "estarei para sempre morto por dentro", "nunca esquecerei ou me livrarei de um sentimento", sem nem ao menos verificarem a veracidade dessas afirmações, que está ligada diretamente à intenção com que elas são ditas. A falta de autocrítica é tão grande que resvala em até mesmo quem só queria ficar quieto no seu canto. Pobre destino, o do destino: ele tem servido nas relações interpessoais até para escravizar o outro. Eu te escravizo com o meu fardo, que te fere, e você me escraviza com o seu.

Associa-se sentimentos ao eterno como forma de legitimação. Às vezes afirmar reiteradamente pode ser necessidade de fortalecer o que na verdade é frágil como um castelo de areia. Falamos sobre as qualidades ou maldições do nosso destino porque precisamos nos convencer e convencer os outros; o destino, portanto, nunca é algo sozinho e absoluto pairando sobre nossos ombros. O meu destino só existe na minha relação com o outro e para o outro.

A desfiguração do destino, repito, para mim, se dá quando necessariamente o identificamos com o eterno. Não sei se consigo me fazer entender, mas o destino para mim não é aquilo que"vai ser assim como uma maldição ou benção inevitável", e sim aquilo que "só podia ser assim, mesmo não tendo existido promessas, mesmo tendo havido uma diversidade enorme de possibilidades de escolha, qualquer caminho levaria até aqui, porque tenho um senso de missão e, no final de tudo, simplesmente foi assim". Só que a missão, mesmo difícil, é leve! Justamente porque parece uma brincadeira: você tropeça, tropeça, e acaba rindo, porque nunca sabe onde vai parar. Mas quando pára, era justamente ali onde você deveria estar! E essa é uma das funções de você estar no mundo, executar tal tarefa naquele momento, ensinar ou aprender alguma coisa, sem a intenção de obter vantagens pessoais daquilo. Missão.

Então o destino não se identifica com o "deve ser assim!", mas com uma boa risada, depois de várias mudanças, percebendo que não se estaria em outro lugar.

Por isso é que nenhuma escolha é errada. Só é errado não fazer escolha alguma.

Esse texto é antigo e inacabado, de meses atrás, e antes de publicar o novo post resolvi publicar o rascunho. Não há conclusão. Eu vejo o destino como o equilíbrio, na minha cabeça me vem essa carta, tão consoladora em determinados momentos.

A vitória. O carro anda, puxado por forças provavelmente opostas, ou pelo menos distintas, dos cavalos azul e vermelho, sem que o nosso herói tenha nas mãos as rédeas. Mas o herói não pode se escusar de não ter as rédeas. A mente dele deseja, demanda. É a vontade que iguala querer a poder. O poder está na vontade, e a concretização do querer, nos atos. O carro anda para frente, porque o herói quer. Senão ele pendurar-se-ia, por livre e espontânea vontade, pelo pé, como o enforcado.