quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Feliz ano novo.















Ou melhor, adeus ano velho. E que tenhamos o melhor ano novo que nós consigamos fazer.


terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Postura













De um hiato em que tive o ímpeto feminista de queimar calcinhas, sutiãs e cintas-liga de cadela, a um tempo em que vejo como fizeste da menina, mulher, revelando identidades e sutilezas, eu fui capaz de perceber;

Eu só precisava de postura: de uma única decisão que fizesse sentido em meu peito e me reconciliasse comigo mesma.

É aquela. A mesma de antes que faz e sempre fez sentido.

Eu escolho Te amar. Eu escolho estar forte para estar ao Teu lado para o que for.

Ser capaz disso me re-significou para sempre. Definitivamente, Você marcou e mudou os rumos da minha vida. Você encheu o meu coração de amor, e abriu meus olhos e minha alma para o mundo.

Me orgulho muito disso. Obrigada por tudo.

Te amo,
mia.



















Daniel na cova dos leões

(Legião Urbana)

Aquele gosto amargo do teu corpo
Ficou na minha boca por mais tempo
De amargo então salgado ficou doce,
Assim que o teu cheiro forte e lento
Fez casa nos meus braços e ainda leve
Forte, cego e tenso fez saber
Que ainda era muito e muito pouco.

Faço nosso o meu segredo mais sincero
E desafio o instinto dissonante.
A insegurança não me ataca quando erro
E o teu momento passa a ser o meu instante.
E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão
Teu corpo é meu espelho e em ti navego
E eu sei que a tua correnteza não tem direção.

Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque
Não vemos

sábado, 27 de dezembro de 2008

Cartas não enviadas - O BDSM é negro?


Como a cada dia aumenta a pilha de cartas escritas e nunca entregues, e como não quero que esse blog deixe de discutir, mesmo que num nível muito raso BDSM, para virar um muro de lamentações, resolvi postar esse texto. Achei engraçado relê-lo. Escrevi há cerca de sete meses atrás, quando tinha muitas dúvidas sobre minha submissão, dúvidas acerca de como ficaria a questão da autonomia numa relação D/s e sobre o que submeter-se implicaria de fato. Acho que todas elas foram resolvidas. Múltiplas perguntas impacientes na carta: "Você acha que sou submissa? O que identifica e caracteriza uma submissa? E uma masoquista? O que você quer de mim, o que espera de mim? Que mudanças isso implica na nossa relação? Aliás, que relação a gente tem? Que relação a gente pretende ter? E se eu não for submissa? E se eu for submissa só sexualmente? O que é ser submissa para você? Não quero discutir aqui ainda o papel da submissa, mas sua essência? Para quem reivindica BDSM como identidade sexual, como poderia ser possível estabelecer uma relação que não fosse BDSM?" Enfim, uma avalanche de perguntas nunca feitas. No fim das contas, o outro trecho da carta era muito mais elucidativo. Notei que meu medo não era nenhuma dessas coisas, que se resolveram aos poucos e no tempo certo. Meu medo era de alguém que já tinha amado muito e que conserva uma relação de amor e ódio com o próprio Amor. Ás vezes de elevação, louvando este sentimento como o mais iluminado do mundo (e realmente é), e às vezes ingratidão diante da dor. Eu descobri no BDSM identidade e que o papel do Dom ia ao encontro de tudo o que desejei na vida. E temi, pois quem tem o mínimo de sensibilidade e intuição acaba temendo sempre com razão.

"Sobre meus medos, tentando entender a origem de toda essa angústia.

Supondo que seja esse o caminho que vamos trilhar. Digo caminho porque tudo é um processo. Não existe submissa pronta, tenho muito, mas muito mesmo a aprender, e como processo interno acho que será bastante tortuoso e difícil (embora eu vislumbre algo muito bom ao mesmo tempo).

Tem características que você reivindica como de uma relação D/s que mexem demais comigo. Toda vez que você fala sobre me proteger e me cuidar, você talvez não tenha idéia do impacto que isso tem sobre mim.

É claro que pessoas me cuidaram, cada um da forma que pôde, mas eu SINTO que ninguém nunca me protegeu.

Isso me dói demais. Ninguém nunca me protegeu.

Eu teria inúmeras situações para relatar aqui. Desde as crianças fazerem roda em volta de mim no colégio e me pressionarem até eu chorar e ninguém nunca aparecer para me defender. Até questões mais sérias de humilhação publica em relação à minha sexualidade. Aqui cabe contar, se você quiser ouvir, um episódio muito marcante para mim.

Eu aprendi a ser "forte" porque não havia ninguém para me defender. As pessoas me acham forte e corajosa e eu me sinto frágil. Eu digo as coisas de forma incisiva e estou chorando por dentro. Depois do teatro, num canto escuro do meu quarto eu, invisível, choro. Me sinto fraca. Eu continuo a mesma mia de antes, que chorava no recreio. Eu só aprendi a fingir melhor em público. Por isso quando penso no que você faz vejo que é uma questão de vocação mesmo. Para mim seria um pesadelo, eu iria aos poucos morrer por dentro. Embora exista o lado muito político de militar no movimento. Eu gosto e não gosto da disputa. Gosto de "esculachar" esses filhos da puta quando eles sofrem uma derrota pois sei que lutamos por algo que é muito justo. Mas ao mesmo tempo, a disputa me avilta. Saber que o mundo está repleto desse tipo de gente, que são eles que estão no poder e dão as diretrizes me deixa muito revoltada, a ponto que parei de achar que isso tudo seria só coincidência e passei a me importar com a questão "existe ou não um Deus" para ficar na dúvida entre sua inexistência ou seu glorioso reinado como um grandissíssimo filho da puta. Sem ofensas a você.

Voltando e pegando o gancho. Eu disputo contra o que acho injusto e isso não diz respeito só ao âmbito do movimento. Eu disputo no sentido de afirmar o que sou, meu direito de poder viver minha sexualidade, por exemplo. Disputo meu direito de ser diferente, com a família, com os amigos, no trabalho. Embora esteja sendo muito mais omissa do que era. Para você entender: ao mesmo tempo que não vou anular as minhas diferenças para que os outros gostem de mim, tenho uma necessidade imensa de ser aceita. Atualmente vivo essa fase: não me anulo, as pessoas me aceitam porque estou vivendo uma mentira.

Onde você entra nisso? Você já vai entender.

Não é para fazer sentido. Estou falando de medos aqui, e eles muitas vezes são irracionais.

Você me trata bem. Você demonstra que gosta de mim, lembra de mim, essas coisas. Estou apaixonada por você. Alterno entre momentos de extrema felicidade e de uma rejeição antecipada. Me questiono se em breve não vai chegar o tempo em que você não irá me aceitar. Que vai achar um despropósito ser honesto comigo. Que vai se arrepender de ter me dito que iria me cuidar e me proteger.

Peço que você reflita. Você me disse que não irá me faltar. Pense bem se você quer isso mesmo, pois eu não consigo pensar em algo que eu deseje mais que isso no mundo.
É isso?

Conversando sobre BDSM e tentando entender um pouco mais, sem fazer nenhuma menção a esse assunto diretamente, olha o que ouvi de uma submissa. Sem querer fui ao encontro de tudo o que temo. Antes de falar, saiba que não acho que nenhuma experiência é igual a outra e que não estou estendendo isso a você. Ouvi que o BDSM não é cor de rosa, e sim negro. Que é uma montanha russa de emoções, e que essa estória do Dom cuidar da sub e não faltar era mentira. Era a sub que tinha estado lá o tempo todo, sem faltar com o Dom. Era ela quem tinha cuidado dele, no fim das contas."



domingo, 21 de dezembro de 2008

Um poema bonito...


que eu tinha lido há muito tempo e me veio à tona recentemente.


Sutra do Girassol (Allen Ginsberg)

Caminhei nas margens do abandonado cais de lata onde outrora
descarregavam banana e fui sentar na sombra enorme de uma locomotiva lá perto
para olhar e chorar o sol morrendo em ladeiras sobre as casas todas iguais.
Jack amigo Kerouac sentou-se ao lado no ferro de um mastro roto partido
e a gente caiu na maior fossa do mundo, os dois ilhados, dois contidos
na rede das raízes de aço,
e eu e Jack pensando os mesmos pensamentos da alma.
No rio a correnteza de óleo refletia o céu rubro, o sol caía
pelas alturas finais de San Francisco, sem que houvesse
peixe nessas águas, sem que houvesse um ermitão nas montanhas, só a gente
com olhos de ressaca e remela, feito vagabundos, cheios de astúcia e cansaço.
Olha só um girassol, Jack então disse, e havia o vulto inerte e cinzento
seco, do tamanho de um homem, recostado
num monte milenar de serragem.
- Eu pulei de alegria e era o primeiro girassol de minha vida, eram memórias
de Blake - essas visões - o Harlem
e os rios do inferno-leste, sanduíches indigestos trotando
um ranger de pontes, carrinhos de bebê encalhados, esquecidos
pneus de bojo negro careca, penicos
& camisas-de-vênus, o poema da margem, canivetes, nada inox, só o mofo
o lixo de tantas coisas cortantes cujo fio passava
para o passado -
e o cinzento girassol se equilibrando ao sol-posto,
desmanchando-se abatido na invasão da fuligem, da fumaça, do pó
de velhas locomotivas no olho -
corola e também coroa com as pontas amassadas virando, com sementes
despencando do rosto, rompendo em breves dentes um dia
claro, raios de sol grudando em seu cabelo riscado
como uma exangue teia de aranha de arame;
caule com braços-folhas jogados, os gestos da raiz de serragem,
pedaços de reboco minando nos galinhos queimados
e uma mosca estagnada no ouvido,
você de fato era uma incrível coisa imprestável, ó meu girassol minha
alma, e como eu te amei então!
sujeira não era parte do homem, era a parte da morte e das locomotivas
humanas,
simples roupa empoeirada, o simples véu da pele férrea, a cara
da fumaça, as pálpebras da escura miséria, a mão
ou falo ou tumor mortiço do imundo motor moderno industrificial disso
tudo, o bafo da civilização poluindo
tua coroa muito louca de ouro -
esses turvos pensamentos de morte, a grande falta
de amor em fins e olhos tapados, raízes abafadas em areia
e serragem, os dólares raspantes elásticos, o couro das máquinas, as
tripas enroscadas de um carente carro que tosse, as solitárias
latas baratas com línguas rotas de fora, e o que mais seja, a cinza
que escorre pela boca na ereção de um charuto, a boceta
de um carrinho de mão, ou os seios acesos de viaturas lácteas, o rabo gasto
que as cadeiras expelem, o esfíncter dos dínamos - tudo
isso embolado nas raízes-múmias -
e você aí de pé na minha
na tarde da minha frente, a sua glória em sua forma!
beleza perfeita, um girassol! uma tranqüila e girassol existência
excelente e perfeita! um olho doce natural para a melancolia da lua
nova, desperto vivo excitado
sacando no crepúsculo sombra a brisa mensual de ouro aurora!
enquanto você lançava blasfêmias
para o céu da via férrea e sua própria floralma,
quantas moscas zumbiram na sua extrema imundície
sem ligar para nada?
Quando, flormortapobre, você esqueceu que é uma flor?
quando olhou sua pele e decidiu que era a velha
suja locomotiva impotente? o fantasma de uma
locomotiva? o espectro e sombra de uma já poderosa
locomotiva americana maluca?
não, girassol, você não foi locomotiva nunca, você foi sempre um girassol!
você, locomotiva, você é o motivo louco de sempre, a locomotiva!
pensando isso peguei o grosso girassol esqueleto e o finquei a meu lado
como um cetro
fiz o meu sermão à minha alma, e também à de Jack, e tambérn à de todos
que ainda queiram ouvir:
Não somos a sujeira da pele, não somos nossa locomotiva medonha triste
poeirenta com ausência de imagem, nós somos todos uns lindos girassóis
por dentro, somos sagrados por nossas próprias sementes &
peludos pelados dourados corpos de ação virando girassóis ao crepúsculo
loucos girassóis formais e negros que esses olhos espiam
na sombra da locomotiva maluca margem beira
San ladeiras Francisco
tarde de lata
sol-posto sentar-se vision.


E quem quiser ouvir o que toca na minha cabeça há vários dias, pode ir em:
http://www.youtube.com/watch?v=O6txOvK-mAk

sábado, 20 de dezembro de 2008

Wilde disse algo mais ou menos assim: Há duas verdadeiras tragédias na vida - uma é não conseguir o que se deseja. A outra é conseguir.
Por aí muitos advertem: tenha cuidado com o que deseja pois pode se tornar realidade.

Somente uma vez na vida eu desejei algo com muita intensidade e isso me foi dado. Nem a cura para um câncer foi desejada de forma tão sincera e intensa. Maldita seja eu.
No momento em que me dei conta disso, me senti amaldiçoada pelos meus desejos.

Mas... peraí.

Justamente um pedido derradeiro e mal formulado? Como pode?

Tinha um objetivo muito claro no que eu estava pedindo: escancarar os problemas para então superá-los em nome de algo belo e maior.

Tenho certeza de que Deus, caso tenha ingerência sobre o assunto, faz interpretações sistemáticas e não literais. Então...

Não, Senhor. Eu não quis dizer exatamente aquilo. E você entendeu isso muito bem.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Oração de uma campeã moral























Que sejam eternos os meus grilhões
aos quais o ódio divino me condena
Que sejam difíceis as minhas escolhas
e muito grandes as minhas perdas
Que eu nunca visualize Justiça
e as vitórias sejam sempre efêmeras
Que tudo que eu ame
simplesmente
desapareça.

Que o salto seja sempre alto
e o abismo sempre profundo
Que eu me lance no vazio, sozinha
sem encontrar
meu lugar nesse mundo.

Que eu seja e esteja sempre no abandono
e me forje na fome, na saudade, no frio
Que eu chore baixinho ao ver teu leito vazio na cama
E, por fim
que me seja sempre tomado tudo o de mais belo que me é dado.
Fogo sobre terra
Vinicius de Moraes / Toquinho

A gente às vezes tem vontade de ser
Um rio cheio pra poder transbordar
Uma explosão capaz de tudo romper
Um vendaval capaz de tudo arrasar

Mas outras vezes tem vontade de ter
Um canto escuro onde poder se ocultar
Um labirinto onde poder se perder
E onde poder fazer o tempo parar

Oh, dor de saber que na vida
É melhor de saída
Ser um bom perdedor
Amor, minha fonte perdida
Vem curar a ferida
De mais um sonhador

"Vou colecionar mais um soneto..."

(essa coisa ruim abaixo é algo que escrevi há umas semanas atrás e não tinha postado)


Do amor também nascem as chagas
Do belo fica só a lembrança
As lembranças esmorecem em cinzas
Tudo muda, tudo perece, tudo se apaga

A vida, esse espelho quebrado
sonhos que voaram pelo caminho
O tempo, mensageiro da derrota
devora-me, amontado de cacos.

Mas das chagas também nasce o amor
O esquecimento tudo transforma
O novo constrói esperanças
Das cinzas uma flor brota

Bela flor, que nasce tímida
e que em tão pouco tempo fenece
Tão fugaz, tão éterea
Lança ao solo tuas sementes
De onde brotará outra flor
e danças, e cores, e sonhos
e outras flores
e dores.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008




"Perversidade é um mito inventado por gente boa para explicar o que os outros têm de curiosamente atrativo"

- Oscar Wilde -

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Cumplicidade


















Porque o amor genuíno constrói e não destrói

Porque minha missão é dar prazer e fazer feliz
Porque Teu sangue é o meu
Porque Tu és o meu Dono
Porque quero crescer e fazer crescer

Eu me empenho para trazer a paz que mereces
E me torno Tua cúmplice em todas as descobertas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008





"A vida é uma longa lição de humildade."