quinta-feira, 9 de outubro de 2008


Minha razão e minha alma em poesia



Percorro o meu trajeto de volta ao meu país com o coração repleto de imagens belas. Memórias macias que me socorrem enquanto me fazem carinho pelos cabelos. A chuva fina molhando meu rosto na varanda. As ruas vazias do centro da cidade e o céu marrom se misturando à luz amarela dos postes. A Tua silhueta no escuro enquanto eu acompanhava Teu sono doce. Tuas sobrancelhas, Teus cílios, as marcas do tempo e do cansaço no Teu rosto. Teu sorriso, Teus dentes, Teus olhares, tudo o que me encanta. Minhas pernas no Teu peito, Teu beijo quente nos meus dedos, meu contentamento em ser Tua.

Essa perplexidade diante do real.

O frio na barriga ao encontro do novo.

Você me perguntou o que significava para mim nesse processo todo. Eu disse que Você era o pivô de muitas transformações difíceis e boas. Mas digo mais, Você é o Homem que escolhi para amar e para servir com todas as forças do meu ser. Você é meu Mestre que me conduz ao encontro da minha identidade. É objeto de carinhos, afeições, admiração e de um amor imenso. Você tem feito a roda girar e criar e recriar novos sentidos.


Não entendo quando diz que tem dificuldade de compreender o porquê de tanta dedicação minha nesse período difícil. Muitas vezes eu me envergonho por não me achar interessante, inteligente e bonita o bastante para Te entreter ou satisfazer por muito tempo.

Sou Tua. Minhas pretensões são grandes e talvez muito arrogantes. Quero ser Teu alimento, quero ser conforto. Quero ser o refúgio de um Grande Homem.


Desde que Te conheci a vida é poesia, é improviso. Uma sucessão de acordes maiores e menores intercalados, surpresas, beleza que nasce de um parto dissonante.





Espelho

(Eugênio de Andrade)

Que rompam as águas:
é de um corpo que falo.

Nunca tive outra pátria,
nem outro espelho;
nunca tive outra casa.

É de um rio que falo;
desta margem onde soam ainda,
leves,
umas sandálias de oiro e de ternura.

Aqui moram as palavras;
as mais antigas,
as mais recentes:
mãe, árvore,
adro, amigo.

Aqui conheci o desejo
mais sombrio, mais luminoso;
a boca
onde nasce o sol,
onde nasce a lua.

E sempre um corpo,
sempre um rio;
corpos ou ecos de colunas,
rios ou súbitas janelas
sobre dunas;
corpos:
dóceis, doirados montes de feno;
rios;
frágeis, frias flores de cristal.

E tudo era água,
água,
desejo só
de um pequeno charco de luz.

De luz?
Que sabemos nós
dessas nuvens altas,
dessas agulhas
nuas
onde o silêncio se esconde?
Desses olhos redondos,
agudos de verão,
e tão azuis
como se fossem beijos?

Um corpo amei;
um corpo, um rio;
um pequeno tigre de inocência
com lágrimas
esquecidas nos ombros,
gritos
adormecidos nas pernas,
com extensas,
arrefecidas
primaveras nas mãos.

Quem não amou
assim? Quem não amou?
Quem?
Quem não amou
está morto.

Piedade,
também eu sou mortal.
Piedade,
por um lenço de linho
debruado de feroz melancolia,
por uma haste de espinheiro
atirada contra o muro,
por uma voz que tropeça
e não alcança os ramos.

De um corpo falei:
que rompam as águas.




Um comentário:

Anônimo disse...

Você não sabe quanto é bom acordar e ler que teus joelhos dobrados não mentem.

Saber que teu sorriso não me esconde segredos.

Saber que teu abraço procura a mim e não qualquer outro.

Que teu coração e teus gemidos são colocados a meus pés, docemente.

Posto que tua própria alma me reivindica, te digo: Não chore mais por nada que não venha de mim.

Estás liberta dos teus outros sofrimentos todos, eu serei tua única agonia.

Teu ser carregará as marcas que te deixarei no espírito.

Tua carne responderá aos meus desejos.

Teu sexo ansiará por meu sêmem.

E serás feliz, me fazendo feliz.

Posto que tua devoção cresce em entendimento e verdade a cada dia; cada passo te torna um só ser comigo.

Te alivio de tudo quanto era pesado e difícil: Teu lugar é apoiada em meus braços. Eu sou tua cicatriz e tua marca de orgulho.

Quanto menor estiver pelos teus joelhos dobrados, maior será o meu abraço que te acolhe.

Tua rendição te libertará. E a mim também.