quarta-feira, 18 de março de 2009

Fé.


Quando as crianças se juntavam à minha volta em roda e me pressionavam até eu chorar, eu Te desejava.
Quando eu queria ter forças para nascer, eu Te desejava.
Quando eu me obrigava a ser forte para enfrentar o mundo, eu Te desejava.
Quando diante de mim faltavam com a verdade, eu Te desejava.
Quando diante de mim faltavam com a coragem, eu Te desejava.
Quando eu era humilhada publicamente Tu vinhas me vingar
E na medida em que as minhas lágrimas escorriam Tu engolias em seco e sentias meus nós na garganta como se fossem Teus.
Te desejava ainda nas noites em que amarrava com cadarços meus piercings nos mamilos
E nas noites em que me masturbava enquanto dormiam do meu lado os namorados.

E como quiseste eu vim pequena, cabelos escuros, pele clara, nariz afilado, mãos e pés pequenos, olhos grandes, quadris largos e seios de uma menina de doze anos.
E pus aos Teus pés, de quatro, os gemidos mais sinceros.
Adorei com o coração o amor e as dores que me deste
E para juntar os meus cacos fui até o inferno.

Eu nunca Te desenhei nem nunca dei forma ao Teu corpo.
Eu nunca Te imaginei chegando num cavalo branco ou me carregando até o altar.
Eu só queria um homem capaz de me dizer a verdade
Mesmo que a verdade fosse me cuspir na cara.

Tu vieste a pé, com uma camisa do Sex Pistols. Troxeste o coração negro como o meu
E inadvertidamente aquele riso de menino que eu desejava a cada esquina.

Quando eu tentava preencher o Teu buraco na alma com amor, eu Te desejava.
Quando eu permanecia impassível do Teu lado nas maiores loucuras, eu Te desejava.
Quando eu chorava no Teu leito de morte, eu Te desejava.
E quando por dentro eu clamava aos céus para Te trazer de volta, eu Te desejava.

Um comentário:

Marte disse...

Uma vez você me escreveu me chamando de Deus.

Você não sabia o quanto estava certa, posto que eu sou você mesma e tu és cada outra pessoa do mundo.

Então porque me chamaste, vim, ainda que nessa fração imperfeita a qual estou preso, sem consciência de sermos divinos.

Por isso está escrito que das profundezas clamarias e Ele seria contigo.

E também está escrito que nem no vale da sombra da morte há razão para se ter medo.

E te chamei a mim, como chamei a mim tua irmã. Porque em cada dor há uma nota perfeita. E cada passo impele o pé recuado a ir adiante. E o amor que tenho a ela é teu amor, e o que tenho por ti é amor dela.

E o resto é medo. E o medo é a maior mentira.

E assim sendo, aconteça o que acontecer, saiba.

Basta clamar.