quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Homenagem a um amor ao alcance dos dedos.




Analgésico. Meu amor. Meu anjo. Minha força fictícia.
Eu te ofereço o meu amor incondicional porque já te conheço há mais de dois minutos: tens sido companheiro fiel nos últimos anos e conheço e aceito teus reveses.

Que os homens me ouçam e corram para os laboratórios de pesquisa.

Eu tenho um corpo que não me obedece. Que tem compulsão por cair. Eu ordeno: anda! Ele desfalece. Ele se arrasta e é tão fraco que não reage. Ele adoece sem nem ao menos produzir febre, se entrega, e a cada ano que passa envelhece com os olhos cheios d'água, esperando esbarrar num outro corpo nos descaminhos do acaso.

Analgésicos: por que não fizeram um para a alma?
O que fazem os cientistas que não disputam esse nicho com as igrejas?
Por que se atrasam em descobrir a melhor invenção do século?

Eu tenho uma alma que não me obedece. Que tem compulsão por cair. Eu ordeno: anda! Ela desfalece. Ela se debate e arde em febre, e a cada ano envelhece com os olhos cheios d'água, esperando esbarrar numa outra alma nos despropósitos do acaso.

Se ao menos houvesse um analgésico para a alma, ela faria igual meu corpo: seguiria se arrastando debilitada, mas determinada a fingir enquanto cumpre suas tarefas diárias. Com sua força renovada, enquanto definha por dentro, a cada seis em seis horas. Que alma linda seria quando ao invés de trair a mim, traísse o resto do mundo!

E talvez, algum dia, ela se tornasse tão fraca que seria incapaz de produzir febre.



3 comentários:

Marte disse...

"Paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas."

(Voltaire)

Ou seja, já inventaram analgésico pra alma, você tá atrasada em relação aos psicotrópicos existentes, pra variar.

mia. disse...

"A via-crúcis da alma
essa nunca vai ter fim."

Para variar Senhor, estou e sempre estarei atrasada em relação aos psicotrópicos existentes, rs.

Mas acho que Cazuza me entenderia melhor do que Voltaire:

"Sou inquieto, áspero
E desesperançado
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha
Feito farpa

Se tanto amor dentro de mim
Eu tenho, mas no entanto
Continuo inquieto
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais

Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É o inesperado"

Portanto...

"Eu e meus comprimidos
Passeamos pelas Paineiras
Eu e meus comprimidos
Babás da felicidade
Como é bom uma droguinha
Que se compra na farmácia
A vida vai indo gostosa
Eu amo meus comprimidos

Aviso aos deprimidos
Aviso aos oprimidos
Não há nada melhor do que
A vida parar de doer
Às vezes custa caro
Mas também tem no INPS

Fiquem felizes, amigos
O mundo é um lugar encantado"

Um beijo grande,
mia.

pereira, fabiano disse...

Sempre tive problemas em me identificar com fotos, mas não pude deixar esta passar despercebida. Fiquei imaginando as cores e formatos das pílulas localizadas na parte superior do peito...